Diário de bordo

Meus queridos e queridas, este blog foi criado para ser o diário de bordo da pesquisa de campo para meu Mestrado, junto ao Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, com o apoio do CNPq. O trabalho intitulado "Pedra Afiada - Um convite para o teatro invadir a cidade" foi orientado pela Prof. Dra. Angela Reis. A pesquisa de campo foi realizada em Itambé, no sudoeste da Bahia, de março a agosto de 2010, onde alimentei este blog com informações e reflexões sobre a pesquisa e a escritura da dissertação. Depois de concluido o Mestrado (março/2011) o blog será utilizado como forma de divulgar e refletir os andamentos da cultura na cidade de Itambé. Esta é uma forma também de discutir a cultura em cidades de pequeno porte do interior da Bahia e do Brasil. Conto com a visita de todos. Ah, uma dica, como este blog funciona como um diário, para os marinheiros de primeira viagem é melhor acompanhá-lo de baixo para cima. Então busquem o primeiro post e boa viagem!!!





domingo, 23 de janeiro de 2011

O exército de São Sebastião agindo cênicamente!

A cidade de Itambé comemorou no último dia 20 o seu padroeiro São Sebastião. A festa que durou dez dias mobilizou toda a comunidade católica na organização da festividade que começou com o decenário no dia 10 de janeiro, com a presença de vários celebrantes convidados. No dia 20, antes do nascer do sol, vários fiéis se reuniram na Praça São Sebastião para uma alvorada. As nove horas da manhã o pároco da cidade Padre Juracy Marden celebrou a missa em homenagem ao santo e às vinte horas toda a cidade parou para assistir o cortejo com a presença de todas as comunidades eclesiais de base das zonas urbana e rural.









Sobre o santo:
Sebastião era um soldado que teria se alistado no exército romano por volta de 283 d.C. com a única intenção de afirmar o coração dos cristãos, enfraquecido diante das torturas. Por volta de 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas (que se tornaram símbolo constante na sua iconografia). Foi dado como morto e atirado no rio, porém, Sebastião não havia falecido. Encontrado e socorrido por Irene (Santa Irene), apresentou-se novamente diante de Diocleciano, que ordenou então que ele fosse espancado até a morte. Seu corpo foi jogado no esgoto público de Roma. Luciana (Santa Luciana, cujo dia é comemorado em 30 de Junho) resgatou seu corpo, limpou-o, e sepultou-o nas catacumbas
Tal como São Jorge, Sebastião foi um dos soldados romanos mártires e santos, cujo culto nasceu no século IV e que atingiu o seu auge na Baixa Idade Média, designadamente nos séculos XIV e XV, tanto na Igreja Católica como na Igreja Ortodoxa. (Fonte: Wikipédia).















O que impressiona nesta festa é a mobilização da população da cidade. Como uma grande ação cênica, cada um oferece o que pode para que a festa aconteça. Durante estes dias, aproveitamos para cobrir a festa que será tema do próximo documentário a ser produzido pelo grupo de pesquisa TERRACULT, ligado ao Instituto de Geociências da UFBA e coordenado pelo professor Angelo Serpa. O grupo busca aprofundar a análise das manifestações culturais a partir da operacionalização dos conceitos de Território e Identidade Cultural como subsídio para a produção de vídeos documentários.
Como ilustração seguem algumas imagens exclusivas de todas as etapas da festividade.
Crédito das fotos: Marcelo Sousa Brito e Angelo Serpa.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Descobrir a cidade através do texto

Publico aqui 13 tópicos do terceiro e último capítulo da dissertação...De brinde, mais cinco imagens da cidade...









1-Uma mudança foi iniciada na segunda metade do século XX, no que diz respeito ao ato de escrever para teatro. Muitos autores começaram a questionar que aproximação o teatro, feito até então, mantinha com as pessoas e com a sociedade e passaram a valorizar o ser humano, suas histórias e o cotidiano deles inseridos no convívio social.

2-Na concepção de uma ação cênica, o cotidiano da cidade e a história das pessoas que ali vivem são contados e “escritos” pelos próprios moradores. Eles são os autores dos próprios textos.

3-Estimular e valorizar o poder criador dos cidadãos de Itambé foi uma das metas mais significativas do processo aqui proposto. Transmitir confiança a cada morador para que os fenômenos que iriam trazer à tona a história da cidade acontecessem, fazendo, assim, com que o individuo agisse cenicamente em função do desenvolvimento cultural do lugar.

4- Do encontro entre o morador e o lugar escolhido, do depoimento produzido por ele a partir deste encontro é que o morador teve o poder de se manifestar e de se posicionar em função de um lugar mais digno, de uma relação mais íntima entre ele e a cidade que habita.

5-Abordar a história de outro ponto de vista, mais lateral e mais subterrâneo (RYNGAERT, 1998, p. 52), possibilita, aqui, a valorização de uma dramaturgia mais orgânica e mais próxima do público, fazendo dialogar informações e pontos de vista comuns a um coletivo, tendo o teatro como veículo para acessar e divulgar essas informações.

6-Todas estas questões e etapas contribuíram no processo de busca de uma imagem coletiva da cidade, aqui considerada a matéria prima para a criação do texto, fazendo dialogar as imagens individuais.

7-A arte feita na cidade ou feita para a cidade deixou de ser produzida apenas por artistas plásticos e arquitetos. Profissionais ligados às artes cênicas começam a ocupar este imenso palco aberto a todas as possibilidades de ocupação artística.

8-O teatro contemporâneo precisa cada vez mais da cidade como palco e a cidade se abre cada vez mais a estas experimentações.

9-Ao analisar os depoimentos percebemos que as questões políticas são uma herança dos tempos do coronelismo na cidade, visto que a maioria dos políticos é composta por familiares destes coronéis. Um monopólio político que perpassa décadas.

10-A partir da análise dos depoimentos chegamos à conclusão que além do texto ser construído a partir de monólogos, era importante trazer vários temas, bem como as contradições que estes temas sugerem para que um debate fosse estabelecido entre atores e público, trazendo de volta o principio do conceito de ação cênica para esta última etapa da pesquisa. Ou seja, unir ação e discurso.

11-Viver a cidade, conhecer cada rua, cada praça, os espaços de sociabilidade, as pessoas que ali vivem. Fazer da cidade sua própria casa. Participar de tudo que envolve o cotidiano deste lugar e assim fazer de cada dia um novo dia, uma nova experiência.

12-Amar e defender a cidade foram os sentimentos que os itambeenses mais expressaram durante a realização desta pesquisa. Mesmo diante do descaso do poder público e da falta de perspectivas para o futuro, os moradores de Itambé continuam depositando e investindo esperança no futuro deste lugar querido por eles.

13-Depois de meses envolvido neste projeto, estimulando reflexões, debates e encontros, portas e janelas serão abertas para que os moradores desta pequena cidade se sintam donos dela, responsáveis por ela, possuidores do futuro desta cidade que somos todos nós.