Diário de bordo

Meus queridos e queridas, este blog foi criado para ser o diário de bordo da pesquisa de campo para meu Mestrado, junto ao Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, com o apoio do CNPq. O trabalho intitulado "Pedra Afiada - Um convite para o teatro invadir a cidade" foi orientado pela Prof. Dra. Angela Reis. A pesquisa de campo foi realizada em Itambé, no sudoeste da Bahia, de março a agosto de 2010, onde alimentei este blog com informações e reflexões sobre a pesquisa e a escritura da dissertação. Depois de concluido o Mestrado (março/2011) o blog será utilizado como forma de divulgar e refletir os andamentos da cultura na cidade de Itambé. Esta é uma forma também de discutir a cultura em cidades de pequeno porte do interior da Bahia e do Brasil. Conto com a visita de todos. Ah, uma dica, como este blog funciona como um diário, para os marinheiros de primeira viagem é melhor acompanhá-lo de baixo para cima. Então busquem o primeiro post e boa viagem!!!





quarta-feira, 27 de julho de 2011

A beleza que o tempo traz!!!

Rendo aqui, mais uma homenagem aos meus amigos, senhoras e senhores do tempo. Eles que fizeram parte da ação "Chá para todos" retornam ao blog como modelos de um ensaio fotográfico. A fotografia foi uma das estratégias utilizadas por mim, para facilitar a aproximação com alguns grupos, incluindo este de pessoas de terceira idade. Como algumas pessoas não me conheciam, como eu não desenvolvia nenhum trabalho fixo na cidade, não era professor, educador nem monitor dos projetos sociais, minha presença sempre despertava estranhamento. Então, pegava minha câmera e ia fotografar essas reuniões e eventos, trazendo uma função e uma justificativa para minha presença. Isto ajudou muito a me aproximar das pessoas. Todos queriam saber onde as fotos seriam publicadas ou para quem eu estava fotografando ou se eu podia presenteá-los com uma fotografia.

Nos nossos encontros eles faziam relatos da vida sofrida, da luta pela sobrevivência, da batalha diária para educar e alimentar seus filhos. Meu desejo era expor as marcas do tempo, mas com leveza, com prazer de viver e de estar vivo. Celebrar a vida destes moradores detentores de uma importância que nem mesmo eles percebem. A importância de saber sobreviver ao tempo. Muitos deles sofridos e machucados pelo destino, mas todos fortes e esperançosos. Felizes, espertos. Prontos para o futuro. Foi assim que cada um me recebia a cada encontro: com o desejo de participar e colorir um pouco mais a rotina diária deles. E vontade é o que não faltava! Nada intimidava aqueles “jovens” senhores e senhoras.

É importante dizer que estas fotografias foram feitas por acaso, eles não sairam de casa para participar de um ensaio fotográfico e sim para um café da manhã comemorativo. Aqui contamos com a participação de apenas oito modelos: Jandira, Nitinha, João, Rocha, Ciana, Alice, Nelson e Olinda.





























quinta-feira, 7 de julho de 2011

São João passou por ai?

O São João passou, mas algumas questões ficaram.

Eu, em Itambé, no sudoeste baiano, fui iniciado, ainda criança, na arte de dançar e apreciar um bom forró. Forró para todos. Esse estilo musical tipicamente nordestino que faz com que famílias se reúnam em torno de uma fogueira e de mesas repletas de deliciosas iguarias. Ainda criança, minha avó Domiciana organizava com dedicação nossa festa de São João e, durante alguns dias, filhos, genros, noras, netos, sobrinhos, vizinhos e quem mais quisesse estavam convidados a festejar e celebrar com alegria esta data tão querida aos itambeenses. Um período de encontro e reencontro.

Mas, assim como o próprio estilo musical, a festa também vem sofrendo transformações, às vezes transformações não muito boas. E eu não estou sendo saudosista, simplesmente gostaria que muito da essência desta tradição fosse mantida, com o intuito de estabelecer um diálogo mais harmônico com as referências atuais. O “novo” e o “velho” andando de mãos dadas. Assim a festa evoluiria, se transformaria, mas não perderia o que de mais sedutor ela tem: o poder de aproximar pessoas!

Vários anos se passaram, hoje já sou homem feito e vi muitas mudanças nesta vida. Relacionadas ao São João eu vi a festa mudar de lugar, sair da praça Municipal e ir para a Praça San Filli, uma espécie de arena festiva da cidade, vi surgir o forró de duplo sentido, vi instrumentos como guitarra, baixo, teclado e bateria serem incorporados, vi surgir a febre do forró eletrônico, o surgimento do forró universitário, uma tentativa de retomar a qualidade do estilo musical, que depois foi se transformando no que a mídia chama de “verdadeiro forró pé de serra”. Vi surgir o tecno brega e o arrocha. Vejo a festa ser privatizada como o carnaval já é, com a criação de “festas de camisa” em locais fechados e pagos. Toda essa “salada”, toda essa “evolução”, nós podemos encontrar nas praças onde as grandes festas de São João acontecem nas cidades da Bahia. Mas uma coisa está cada vez mais difícil de encontrar: o velho e bom forró tocado simplesmente por um trio (triângulo, zabumba e sanfona). E olha que Itambé tem forrozeiros dos bons. E olha que em Itambé tocar Sanfona deveria ser disciplina obrigatória nas escolas!

Desde que retornei a Itambé em 2010 para fazer a pesquisa de campo do Mestrado, no qual utilizei o teatro como ferramenta para analisar questões da história e da cultura local, me deparo com essas questões ligadas à tradição. Vários entrevistados se mostraram insatisfeitos com o rumo que a festa estava tomando e, na festa de 2011, percebi que eles tinham razão. A forma mercadológica e comercial tomou conta da festa e tudo é preparado a portas fechadas, sem consultar a população, pensando apenas em uma fatia destes consumidores: os jovens. Mas, penso que, por outro lado, é realmente com os jovens que devemos nos preocupar. Quem vai levar adiante, quem vai manter viva e vibrante essa festa?

Este ano um importante fenômeno aconteceu em Itambé. Descontentes com a programação da festa oficial na Praça San Filli, muitos moradores organizaram suas próprias festas. Famílias e amigos se organizaram, fecharam ruas, decoraram tudo, armaram fogueiras, prepararam comidas e bebidas e, ali sim, encontramos o forró que estávamos à procura. Gente simples, festa simples, mas com alegria para dar e vender. Lindo ver pessoas de todas as gerações reunidas; revigorante presenciar este ato de comunidade. Uma esperança de que o novo e o velho podem, sim, andar juntos. No início da década de 50 do século passado, Luiz Gonzaga era tão pop quanto Mastruz com Leite ou qualquer outra dessas bandas, quem sabe até mais, já que o Gonzagão arrebatou corações, independente de classe social e para além do gueto. É um crime que essa juventude não conheça a poesia sonora de Luiz Gonzada, Marinês, Alcymar Monteiro, Jorge de Altino, Dominguinhos e também a garra de Zé de Sula dos Oito Baixos, Carlinhos do Acordeon, Cello Costa e tantos outros.















Confira agora um vídeo realizado durante uma festinha na casa de um dos vizinhos de Manoel. Sábado de manhã, 25 de junho de 2011.


sexta-feira, 1 de julho de 2011

Azaleia ameaça fechar as portas!

A fábrica da Vulcabras/Azaleia, localizada em Itapetinga, demitiu, nos últimos sete meses 3 mil funcionários da região Centro-Sul do estado, segundo cálculos da prefeitura de Itapetinga.

Agora, a empresa ameaça deixar a Bahia e migrar para Nova Délhi, capital da Índia, deixando quase 18 mil pessoas sem emprego. Além da matriz, em Itapetinga, a fábrica tem filiais em outros 13 municípios baianos. Entre eles, Itambé.

Em busca de mão de obra bem mais barata do que no Brasil e fugindo também dos altos impostos e da fiscalização do Ministério da Fazenda o remanejamento para a Índia já começa a ser preparado. Outro motivo apontado pela diretoria da fábrica é a competição dos produtos locais com os importados de países asiáticos, especialmente da China, é apontada como o principal motivo para a crise que afeta o setor calçadista.

Na Bahia, a indústria calçadista teve seu boom nos anos 90. Várias fábricas vieram para cá atraídas por incentivos fiscais e pelos salários mais baixos que os do Sul do país, mas hoje se encontram ameaçadas pela possível perda desses incentivos, com o recente entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) de considerá-los inconstitucionais.

17 mil é o número de empregados da Vulcabras/Azaleia na Bahia, que têm situação incerta com a possível migração da indústria para Nova Délhi

3 mil trabalhadores já foram demitidos da fábrica da Vulcabras e filiais, segundo prefeitura de Itapetinga. A empresa diz que o número não chega a 2 mil

Em meados de junho, prefeitos, vereadores e lideranças políticas regionais preocupados com a possibilidade de a Vulcabras/Azaleia de Itapetinga fechar as portas, realizaram uma audiência pública na Câmara de Vereadores do município. Durante o encontro, os políticos discutiram alternativas para sensibilizar o empresariado e para abrigar os trabalhadores já demitidos.

O tema também tem tido destaque nas sessões das câmaras de vereadores dos municípios produtores na Bahia. Entre as cidades afetadas, que possuem filiais e empregados da fábrica, estão Maiquinique, Itarantim, Itororó, Caatiba, Macarani, Potiraguá, Firmino Alves, Nova Canaã, Ibicuí, Iguaí e Itambé.







Fonte: Correio da Bahia. Sexta-feira, 01.07.2011