Diário de bordo

Meus queridos e queridas, este blog foi criado para ser o diário de bordo da pesquisa de campo para meu Mestrado, junto ao Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, com o apoio do CNPq. O trabalho intitulado "Pedra Afiada - Um convite para o teatro invadir a cidade" foi orientado pela Prof. Dra. Angela Reis. A pesquisa de campo foi realizada em Itambé, no sudoeste da Bahia, de março a agosto de 2010, onde alimentei este blog com informações e reflexões sobre a pesquisa e a escritura da dissertação. Depois de concluido o Mestrado (março/2011) o blog será utilizado como forma de divulgar e refletir os andamentos da cultura na cidade de Itambé. Esta é uma forma também de discutir a cultura em cidades de pequeno porte do interior da Bahia e do Brasil. Conto com a visita de todos. Ah, uma dica, como este blog funciona como um diário, para os marinheiros de primeira viagem é melhor acompanhá-lo de baixo para cima. Então busquem o primeiro post e boa viagem!!!





terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Juntos, podemos tudo!

 
Março de 2010 eu desembarcava em Itambé, minha cidade natal, localizada no sudoeste da Bahia. Lá eu realizei com muito custo as atividades de pesquisa de campo do meu Mestrado no Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UFBA, defendido em março de 2011 com o título “Pedra-Afiada: um convite para o teatro invadir a cidade”, dissertação posteriormente transformada no livro “O teatro invadindo a cidade” (EDUFBA/2012). Aqui nesse blog o leitor dessa postagem pode acompanhar todo o desenrolar da pesquisa que tinha Itambé e seus habitantes como foco principal da pesquisa.

Em Itambé eu vivi seis meses intensos de entrevistas, visitas, passeios, conversas e a árdua batalha de convencer os moradores da cidade a ocuparem os espaços públicos. Já em 2010 Itambé sofria com o esvaziamento dos espaços de convivência por conta do abandono do poder público e da onde de violência que assolava/assola a cidade.

O fato é que, com muito trabalho consegui realizar algumas atividades relatadas no livro juntamente com reflexões sobre a ocupação da cidade através de uma participação popular.

Mas como o tempo é senhor de tudo eis que eu retorno a Itambé e vejo uma situação que aponta para um novo horizonte.

Sábado, dia 10/12/2016, um grupo de ativistas literalmente vestiu a camisa e saiu às ruas afim de ocupar os espaços públicos da cidade, mais precisamente a Avenida Cinquentenário, no centro da cidade. O grupo composto por esportistas, professores, funcionários públicos, profissionais da área da saúde, donas de casa, profissionais liberais, crianças, idosos, artistas e moradores do entorno deu início à ação primeiramente limpando a área e deixando a terra pronta para um plantio de árvores e plantas ornamentais. Nesse dia, além do plantio foram realizadas atividades físicas, artísticas e esportivas, mas também avaliação médica, avaliação postural e a avenida foi tomada e ocupada durante toda a manhã. Foi bom ver as pessoas unidas pensando no bem da cidade, foi bom ver várias camadas da sociedade trabalhando juntos, mas é preciso pensar que a luta não é fácil e reverter uma situação é bem complexa e requer continuidade para depois de resolverem a questão da Avenida Cinquentenário é importante pensar em outros lugares da cidade que precisam ser ocupados e vividos. A cidade só existe no momento em que ela é vivida e para vivê-la é preciso sair de casa e tomar as ruas sem medo. Juntos podemos tudo inclusive acabar com o medo.

“Itambé é uma cidade recente. Não encontramos obras de arte antigas ou modernas pelas ruas e prédios. Não temos em seu patrimônio nenhuma grande criação da arquitetura, mas lá, nos planaltos, montanhas e vales desta região peculiar deste Estado chamado Bahia, nós encontramos pessoas dispostas a defender seu lugar, a aprender a conviver com a distância dos grandes centros urbanos, mas prontas também para saber como diminui-la. Pensando assim, os habitantes de Itambé, como os habitantes de qualquer cidade deste imenso fundo do caldeirão chamado Brasil, querem ter os mesmo direitos e deveres sem sair de onde estão. Eles querem continuar ali não de forma passiva, mas como agentes de uma transformação necessária. De acordo com Lefebvre (1991, p.47), “a cidade tem uma história; ela é a obra de uma história, isto é, de pessoas e de grupos bem determinados que realizam essa obra nas condições históricas”. Na definição de Lefebvre (1991, p.56), cidade é a ‘projeção da sociedade sobre um local, isto é, não apenas sobre o lugar sensível como também sobre o plano específico, percebido pelo pensamento, que determina a cidade e o urbano’”.

Escolhi esse trecho do livro “O teatro invadindo a cidade” para fechar essa postagem porque também, esse livro foi lançado em Itambé com todas as despesas custeadas por minha pesquisa e eu distribuí 50 livros gratuitamente. Duvido que alguém tenha lido o livro o que é uma pena. Pena porque a leitura desse livro faria com que os itambeenses se reconhecessem enquanto tal, possibilitaria o entendimento da atual realidade da cidade e conheceria o ponto de vista de alguns moradores da cidade entrevistados para a pesquisa além de conhecer as ações realizadas o que, no mínimo serviria de inspiração para os próximos passos desse movimento de ocupação que acaba de surgir.

É preciso se informar, alimentar o pensamento para que ação e discurso estejam juntos e não se esvaziem com o passar dos dias!

Eu continuo aqui, itambeense que sou, não só de olho aberto, mas também de peito aberto para qualquer iniciativa que priorize o desenvolvimento de minha cidade em todos os sentidos. Então contem comigo, sigam em frente e quem quiser ler o livro nunca é tarde, peça emprestado de quem tem e boa leitura.